O apelo do MONTE (2)
“Tal como
no Sermão da Montanha e nas noites passadas por Jesus em oração, aparece aqui o
monte como lugar de particular proximidade a Deus; de novo devemos pensar nos
diversos montes da vida de Jesus como se fossem um só: o monte da tentação, o
monte da sua grande pregação, o monte da oração, o monte da transfiguração, o
monte da agonia, o monte da cruz e, finalmente, o monte da ascensão; neste, o
Senhor, em oposição à oferta do domínio sobre o mundo que Lhe seria dado em
virtude do poder do demónio, declara: «Foi-Me dado todo o poder no céu e na terra» (Mt 28, 18). Mas, no
horizonte, delineiam-se também o Sinai, o Horeb, o Moriah - os montes da
revelação do Antigo Testamento - que
são, todos eles, ao mesmo tempo montes da paixão e da revelação e, por sua vez,
remetem ainda para o monte do templo, sobre o qual a revelação se torna
liturgia. Na busca duma interpretação, depara-se-nos em primeiro lugar o
simbolismo geral do monte: o monte como lugar da subida, não apenas da subida
exterior, mas também da ascese interior; o monte como um libertar-se do peso da
vida diária, como um respirar no ar puro da criação; o monte que oferece o
panorama da criação em toda a sua vastidão e beleza; o monte que me dá elevação
interior e me permite intuir o Criador. A estas considerações, a história
acrescenta a experiência de Deus que fala e a experiência da paixão com o seu
ponto culminante no sacrifício de Isaac, no sacrifício do cordeiro,
prefiguração do Cordeiro definitivo sacrificado no monte Calvário. Moisés e
Elias puderam receber a revelação no monte; eles aparecem agora, na
transfiguração, a conversar com Aquele que é a revelação de Deus em pessoa”.
Bento XVI, "Jesus de Nazaré", A Esfera dos Livros, Lisboa, 2010, 5a Edição, pg. 383-384.
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