domingo, 29 de julho de 2012

O apelo do MONTE (2)
“Tal como no Sermão da Montanha e nas noites passadas por Jesus em oração, aparece aqui o monte como lugar de particular proximidade a Deus; de novo devemos pensar nos diversos montes da vida de Jesus como se fossem um só: o monte da tentação, o monte da sua grande pregação, o monte da oração, o monte da transfiguração, o monte da agonia, o monte da cruz e, finalmente, o monte da ascensão; neste, o Senhor, em oposição à oferta do domínio sobre o mundo que Lhe seria dado em virtude do poder do demónio, declara: «Foi-Me dado todo o poder no céu e na terra» (Mt 28, 18). Mas, no horizonte, delineiam-se também o Sinai, o Horeb, o Moriah - os montes da revelação do Antigo Testamento - que são, todos eles, ao mesmo tempo montes da paixão e da revelação e, por sua vez, remetem ainda para o monte do templo, sobre o qual a revelação se torna liturgia. Na busca duma interpretação, depara-se-nos em primeiro lugar o simbolismo geral do monte: o monte como lugar da subida, não apenas da subida exterior, mas também da ascese interior; o monte como um libertar-se do peso da vida diária, como um respirar no ar puro da criação; o monte que oferece o panorama da criação em toda a sua vastidão e beleza; o monte que me dá elevação interior e me permite intuir o Criador. A estas considerações, a história acrescenta a experiência de Deus que fala e a experiência da paixão com o seu ponto culminante no sacrifício de Isaac, no sacrifício do cordeiro, prefiguração do Cordeiro definitivo sacrificado no monte Calvário. Moisés e Elias puderam receber a revelação no monte; eles aparecem agora, na transfiguração, a conversar com Aquele que é a revelação de Deus em pessoa”.
Bento XVI, "Jesus de Nazaré", A Esfera dos Livros, Lisboa, 2010, 5a Edição, pg. 383-384.

sexta-feira, 27 de julho de 2012

 O apelo do MONTE (1)
12Jesus foi para o monte fazer oração e passou a noite a orar a Deus.” (Lc 6, 12)
A Montanha é um dos lugares privilegiados dos encontros com Deus. A Montanha Virgem e Solitária é um marco digno para as grandes comunicações do Senhor. Tem em comum com o Deserto as exigências da nudez e do despojamento. É ainda um sinal no espaço da elevação da alma acima do bulício dos negócios terrenos, dos pecados e prazeres dos homens.
É um empurrão soberbo da terra rumo à pureza do céu.
Os seus cumes invioláveis falam do Deus 4magnífico nas alturas” (Sl 92, 4). Os Monges que procuramos a Deus, na Escola do Monte da Transfiguração, devemos deixar-nos aprisionar por este apelo espiritual, que não é ilusório, mas escolhido por Deus para falar ao coração dos homens: "É assim que a vou seduzir: ... para lhe falar ao coração.”(Os 2, 16)

sexta-feira, 20 de julho de 2012

O apelo do DESERTO
16É assim que a vou seduzir: ao deserto a conduzirei, para lhe falar ao coração.”
(Os 2, 16)
Sinal da predilecção de Deus é o chamamento ao Deserto. O chamamento que nos faz é gratuito e a nossa perseverança deve-se unicamente à condescendência divina. Os monges que procuramos a Deus, tenhamos sempre presente esta fineza do amor de Deus para connosco. Ao entrar, não sabemos o que a Solidão do Deserto nos reserva. Entremos pois no Santo Deserto, humildes e sossegados. Ao Deus que nos espera, a única coisa de valor que Lhe devemos apresentar é a nossa inteira disponibilidade: 4«Eis- me aqui.» - 5«Aqui estou, pois me chamaste.» ... 6«Aqui estou, pois me chamaste.» ... 7«Aqui estou, pois me chamaste.»” (1Sm 3, 4-7). Quanto mais leve seja a nossa equipagem humana, quanto mais pobres sejamos daquilo que o mundo estima, maior será a nossa oportunidade de êxito, já que Deus goza de maior oportunidade para nos moldar, pois chama-nos a viver só com Ele, para Ele e nada mais.
Para fazer verdadeira experiência de Deserto, temos que nos despojar de tudo, para encontrar O TUDO. Temos que nos revestir da Santa Nudez e fazer, verdadeiramente, a experiência do despojamento total, caso contrário estamos destinados ao fracasso.