sexta-feira, 28 de maio de 2010

O Monge e as Vigílias nocturnas
“De madrugada, ainda escuro, levantou-se e saiu;
foi para um lugar solitário e ali se pôs em oração”.
(Mc 1, 35)
Para o monge, a noite é o momento de maior proximidade a Deus. É fundamental já que nela não pode fazer outra coisa senão orar, os sentidos livres da obsessão do detalhe deixam a alma mais disponível para a união com Deus. Além do mais, a noite é a hora preferida por Jesus para os seus colóquios com o Pai: “Jesus foi para o monte fazer oração e passou a noite a orar a Deus.” (Lc 6, 12). A noite é, igualmente, o momento preferido dos grandes mestres da espiritualidade: “A meio da noite levanto-me para te louvar, por causa das tuas justas sentenças.” (Sl 119 [118], 62), “Durante a noite lembro-me do teu nome, SENHOR, e penso muito na tua lei.” (Sl 119 [118], 55), “A minha alma suspira por ti de noite” (Is 26, 9) e “A meio da noite, ouviu-se um brado: ‘Aí vem o noivo, ide ao seu encontro!’” (Mt 25, 6). E ainda: “À noite, fazia uma boa meia hora de adoração ao Santíssimo Sacramento…; quem poderá adivinhar a suavidade desse encontro de corações durante os quais se julga não estar na terra e em que nada mais se vê nem se ouve senão Deus! Deus fala à alma, Deus diz-lhe coisas tão suaves … Enfim, Jesus, que nos pede um pouco de amor…” (Beata Isabel da Santíssima Trindade).
Ao Monge, que procura a Deus, é dado escutar cada noite as vozes do Silêncio e receber a Graça sempre operante dos Mistérios de Deus. O Bem-Aventurado Carlos de Jesus (Foucauld) bendizia as suas insónias porque estas lhe permitiam a contemplação de tais Mistérios: “Às duas da madrugada. Que bom Sois Deus meu, por ter-me despertado. Mais de seis horas ainda para não fazer outra coisa que contemplar-Vos, estar a Vossos pés e não Vos dizer outra coisa que, Amo-Vos”.
Fixando o olhar no Divino Orante que, se levantava de madrugada para rezar (Lc 4, 42; Lc 6, 12), para os Monges, as horas que precedem o nascer do sol, são as mais apropriadas para serem consagradas a Deus, mediante a celebração de Vigílias, a oração e a meditação, em atenta espera da vinda do Senhor: “Vigiai, pois, porque não sabeis em que dia virá o vosso Senhor. Ficai sabendo isto: Se o dono da casa soubesse a que horas da noite viria o ladrão, estaria vigilante e não deixaria arrombar a casa. Por isso, estai também preparados, porque o Filho do Homem virá na hora em que não pensais.»” (Mt 24, 42-44).
Durante a noite deve-se reflectir sobre a lei e as acções de Deus: “Durante a noite lembro-me do teu nome, Senhor, e penso muito na tua lei” (Sl 119, 55) e ainda “A meio da noite levanto-me para te louvar, por causa das tuas justas sentenças” (Sl 119, 62). A noite é a altura certa para reflectir sobre as acções de Deus. Os monges, devemos abandonar o coração à Palavra de Deus. Ao encarnar a Palavra de Deus fazemos a mais profunda experiência da Trindade que nos habita. A noite é, por isso, a altura mais apropriada para isso. Quando tudo à nossa volta está em silêncio, Deus pode chegar mais depressa aos nossos ouvidos (Cf. GRUN, Anselm, “Ao ritmo do tempo dos monges - sobre a relação com um bem valioso”, Paulinas Editora, Prior Velho, 2006, pgs. 25-26).
O Senhor chega repentinamente, na noite e há que aguardá-lO em vigília: “A meio da noite, ouviu-se um brado: «Aí vem o noivo, ide ao seu encontro!»” (Mt 25, 6). Por isso o monge persevera em vigília para velar em ardente espera o regresso do Senhor, imitando o Divino Orante, que rezava ao Pai durante a noite (Ler: Mt 14, 23; Mt 26, 36.38-42).

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