sábado, 13 de junho de 2009

VIDA CONTEMPLATIVA...
Qual o sentido da Vida Contemplativa na Igreja?
Todos sabemos que, como São Paulo diz, a Igreja é um Corpo e, neste Corpo cada membro tem a sua função. Nem todos podem ser olhos, como nem todos podem ser mão ou pé… mas todos, absolutamente todos, são necessários e imprescindíveis para que o Corpo possa viver saudavelmente. Há membros exteriores, visíveis e há-os também interiores e invisíveis aos nossos olhos. O Coração é um destes. Mas por não se ver quem ousaria duvidar da sua importância? Assim é também na Igreja. É esta a função e o serviço da vida contemplativa na Igreja, ser coração: “bombear” para todas as partes do Corpo da Igreja a vida e a graça de Deus, o Amor de Deus, de maneira a dar vida e fecundidade a todo o Corpo da Igreja, a todas as actividades e ministério dos sacerdotes, dos Leigos, dos agentes de pastoral, de toda a Igreja e de todo o mundo. Uns falam de Deus aos homens, nós falamos dos homens a Deus, segundo a conhecida frase de São Bruno, Fundador da Cartuxa.
É uma vida escondida e por isso muito pouco conhecida. Quando é conhecida é valorizada por muitos e às vezes também é mal compreendida, por se julgar que é um desperdício passar uma vida inteira a rezar, e a entregar a vida por todos, quando há tanto a fazer neste mundo. S. João da Cruz, um grande Doutor da Igreja dizia “É mais útil à Igreja um acto de puro amor do que todas as obras juntas”. A Vida contemplativa só se entende à luz da fé, só se compreende quando se experimenta que Jesus é o Senhor do mundo, o Senhor de todos os corações, só se compreende quando acreditamos que d’Ele vimos, n’Ele vivemos e para Ele vamos… e que a nossa verdadeira vida não é esta, terrena, mas a vida eterna, para sempre, junto d’Ele. Quando acreditamos profundamente em tudo isto, não só compreendemos a importância da vida contemplativa, como a consideramos não apenas útil, mas indispensável. Através da oração e da entrega de vida, e através dos fortes elos que ligam todos os membros da Igreja, os contemplativos pela oração, podem ir a todos os lugares mais recônditos do mundo e fecundar a acção de Sacerdotes, Consagrados, Leigos, ajudar os doentes, os pobres, os necessitados e todos os atribulados deste mundo. Temos um exemplo em Santa Teresinha: esta Carmelita nunca saiu do seu Carmelo e no entanto no dia 14 de Dezembro de 1927, o Papa Pio XI proclamou Santa Teresa do Menino Jesus padroeira principal de todos os missionários, juntamente com São Francisco Xavier. Temos que ampliar o nosso conceito de eficácia que não se resume ao que fazemos como obras exteriores, visíveis, mas incluir “a parte de Deus” (que é a maior) e que é determinante da verdadeira eficácia.
Santa Teresinha, explica magistralmente o que é a vida contemplativa. Diz ela num dos seus escritos: “…Continuei a ler, sem desanimar e esta frase reconfortou-me: “Aspirai aos dons mais elevados, e ainda, vou mostrar um caminho que ultrapassa tudo.” E o Apóstolo vai explicando como os carismas melhores nada são sem o amor… E que a caridade é esse caminho que ultrapassa tudo e que conduz a Deus com total segurança Podia, finalmente, descansar… Ao olhar o corpo místico da Igreja, eu não me tinha reconhecido em nenhum dos membros descritos por S. Paulo; ou melhor, queria reconhecer-me em todos eles…
O amor deu-me a chave da minha vocação. Compreendi que se a Igreja tinha um Corpo composto por diferentes membros, não podia faltar-lhe o mais necessário, o mais nobre de todos eles. Compreendi que a Igreja tinha um coração e que esse coração estava ardendo de Amor. Compreendi que só o Amor podia fazer actuar os membros da Igreja; que se o Amor se apagasse, os apóstolos já não anunciariam o Evangelho e os mártires se negariam a derramar o seu sangue… Compreendi que o amor encerrava em si todas as vocações, que o amor era tudo, que o amor abarcava todos os tempos e lugares… Numa palavra, que o amor é eterno…! Então transbordante de alegria exclamei: Jesus, meu amor… por fim encontrei a minha vocação! A minha vocação é o amor…! Sim, encontrei o meu lugar na Igreja, e fostes Vós que mo destes. No coração da Igreja, minha Mãe, eu serei o amor… Assim serei tudo… Assim o meu sonho será realizado…!!!”
O que diz a Vida Contemplativa à Igreja?
Diz que todos podemos ser e devemos ser contemplativos, o mesmo é dizer, ser “amigos fortes de Deus”, nas palavras da grande Santa Teresa de Jesus, acreditando na Sua Palavra, na Sua vida em nós, no Seu Amor e dando testemunho desse Amor através de gestos muito concretos com os irmãos, começando pelos que nos estão mais próximos. Ser contemplativo/a não é pois, apenas aquela pessoa que reza, mas uma totalidade que, para além da oração, exige a conversão da vida e o testemunho de amor aos irmãos. O que é característico daquele que vive a dimensão contemplativa é compreender que toda a força para ser verdadeiramente de Jesus lhe vem Tu és do próprio Jesus que vive em si. O contemplativo reconhece que nada, mas nada vem das suas próprias forças, segundo a palavra de Jesus: “Sem Mim nada podeis fazer” e ao mesmo tempo sabe que o Senhor não só lhe dá a graça de que precisa a cada instante, como o próprio Jesus permanece em si e lhe faz companhia em cada momento da sua vida, como Ele próprio disse: “…meu Pai o amará, Nós viremos a Ele e faremos n’Ele a nossa morada”.
Escreveu a Beata Isabel da Trindade, uma Carmelita: “Desde que encontrei a Deus dentro da minha alma, nunca mais me senti só” e ainda, “pensa que não estás só e que o santo Deus está contigo para te amparar, abandona-te nos seus braços, Ele é todo Amor.”
É este o apelo que a vida contemplativa faz à Igreja: descobrir que o Senhor nos habita verdadeiramente, nos ama e quer caminhar dia após dia connosco, partilhando as nossas alegrias, sofrimentos, dores, esperanças e anseios mais profundos, profundidade esta a que mais ninguém, senão Ele, pode chegar para nos confortar, acompanhar, iluminar, ajudar e animar a uma vida sempre nova. Todos podemos chegar a fazer esta experiência de Deus nas nossas vidas: uma experiência quer dizer, experimentar de facto a presença viva de Jesus vivo em nós, na nossa vida, nos acontecimentos do dia a dia. Para isto é necessário dispormo-nos. Como? Através da oração silenciosa, da leitura da Palavra de Deus, da frequência assídua aos Sacramentos da Eucaristia e Confissão, pela entrega generosa aos Irmãos, começando pela própria Família… Este é o caminho que conduz sempre mais ao encontro com Ele.
A vida contemplativa apela igualmente ao valor da oração. A oração não tem necessidade de ser atendida naquilo que pede. O maior dom que a oração obtém é o próprio facto de se rezar por si mesmo, isto é, entrar em comunhão com Deus. Este é o fruto que a oração traz sempre consigo, superior a qualquer esperança ou pedido da nossa parte. A pouco e pouco ver-nos-emos transformados, com força para actuar, para suportar as dificuldades, para sermos melhores.
O que diz a Igreja à Vida Contemplativa?
A Igreja pede à Vida contemplativa que seja testemunho da primazia de Deus na vida do homem e da mulher do nosso tempo e de todos os tempos.
É a Igreja toda que sustenta igualmente a vida contemplativa com a sua oração, a oração de todos os fiéis, pois todos os contemplativos e contemplativas precisam muito que se reze por eles, para serem fiéis na missão a que o Senhor os chamou. Quanto mais a Igreja toda rezar pelos contemplativos, mais verdadeiros e fiéis serão os contemplativos na sua vocação e mais fortes serão as suas orações e o influxo que terão sobre todo o Povo de Deus, a Igreja e o mundo.
(fonte: Comissão Episcopal Vocações e Ministérios)

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