quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Venerável
soror Custódia Maria do Sacramento oic
virgem e monja Portuguesa
da Ordem da Imaculada Conceição,
1706-1739
Foi filha do Sr. Manuel Ribeiro Veiga e da Srª Dª Catarina Couto, sua mulher, moradores na Quinta da Veiga de Penzo, periferia da cidade de Braga. Nasceu a 17 de Junho de 1706 e foi baptizada ao fim de três dias pelo seu tio materno, o Padre João de Couto, Reitor de Ronfe. No baptismo recebeu o nome de Custódia.
De família ilustre e aparentada com as nobres famílias dos Sousas, Abreus, Magalhães e Vasconcelos, Custódia era a mais nova dos oito filhos de Manuel e Catarina.
Infância e Juventude
Com a idade de quatro a cinco anos, saia às escondidas de casa e ia rezar para a Igreja. Sua mãe encontrou-a várias vezes na Igreja, de joelhos, rezando diante do altar, sendo evidentes no seu rosto infantil sinais de profunda contemplação. Gratos seriam a Deus os colóquios daquele coração angelical.
Todos os anos em Quinta-feira Santa passava toda a noite em oração diante do Santíssimo Sacramento.
Não se limitava a rezar. Ia conhecendo na oração qual era a Vontade de Deus e o seu coração compassivo não lhe permitia ver necessidades alheias sem fazer alguma coisa para as remediar. Assim, desde menina, a todos os pobres que batiam à porta de sua casa não só lhes dava de comer, como lhes procurava arranjas roupa e sapatos e com o coração em festa os dava aos pobres reconhecendo neles a presença de Jesus.
Conciliava sábia e ordenadamente a oração e o trabalho. Vestia-se de forma muito simples e ocupava-se, sem necessidade pois em casa de seu pai havia empregados, dos trabalhos mais humildes e discretos: varria, lavava, carregava água, amassava e enquanto a massa levedava ia à Igreja ouvir missa e fazer a Via-Sacra e ainda chegava a casa a tempo de se ocupar das mais variadas tarefas domésticas.
Tinha como director espiritual, um santo e douto varão, o Padre Manuel de Santiago.
Segundo a tradição tinha a jovem Custódia um rosto bonito e trigueiro, olhos claros como diamantes e afirma-se também que nunca perdeu a graça baptismal.
Aos 27 anos comunicou aos pais a sua decisão de se consagrar a Deus no Mosteiro da Conceição de Braga. A ninguém surpreendeu esta decisão, só os retraia o facto de Custódia «não sabia ler e que era muito simples», segundo expressão da sua 1ª biógrafa a Madre Maria Benta do Céu.
Tendo os pais dado o seu consentimento, Custódia apressou-se a dar a notícia ao seu irmão o Padre João de Couto e aos tios.
Puseram-se de acordo com o director espiritual da jovem, o Padre Manuel de Santiago, e a abadessa do Mosteiro da Conceição e, depois de tudo resolvido, entrou cheia de alegria e satisfação no claustro Concepcionista de Braga.
Noviciado e profissão monástica
Vestiu o hábito branco e azul, das monjas da Ordem da Imaculada Conceição fundada por Santa Beatriz da Silva, no dia 2 de Outubro de 1733, festa do anjo custódio e mudou o nome para soror Custódia Maria do Sacramento.
Apesar de não saber ler e da sua simplicidade, como diz a sua 1ª biógrafa, «ao fim de seis meses sabia ler latim tão correctamente e lia com desenvoltura as leituras no coro. Igualmente, sem saber música, juntava-se às cantoras e com elas cantava».
Professou no ano seguinte «com grande alegria sua e da comunidade».
No seu desejo de ser santa, fixava-se nas monjas mais observantes e esforçava-se por imitá-las, «pondo muito cuidado em que a sua virtude fosse mais interior que exterior».
A sua biógrafa madre Maria refere que foi sempre «muito sensata, humilde e modesta; de admirável simplicidade e de paz interior. Mas nem por isso era encolhida nem parada, mas tinha um ânimo muito vivaz e bem disposto».
Amava o silêncio interior e procurava estar continuamente em comunhão com Deus, esforçando-se por não perder a sua divina presença mesmo durante as tarefas quotidianas mais simples. Com frequência praticava os Exercícios de Santo Inácio. Dedicava-se à oração ainda com mais intensidade que antes de entrar para o Mosteiro. Dizia que tinha vindo para o claustro para se recolher e não para dissipada e distraída. Como São Bernardo queria fazer da sua cela o Céu, falando continuamente com Deus e com as pessoas só o necessário.
Amante da sã penitência como meio de purificar-se das sua faltas e de alcançar das alheias, usava prudentemente cilícios e disciplinas e outros meios, valorizando o que ensina São Paulo sobre o Homem Carnal e o Homem Espiritual.
Por amor à Virgem Imaculada jejuava com grande alegria todas as 6ª feiras e sábados, como manda a Regra que professava. Não perdia tempo, uma vez cumpridas as suas obrigações, o tempo que lhe sobrava empregava-o ao serviço das irmãs da sua comunidade, remendando os hábitos e outras peças de roupa ou trabalhando para os pobres. A sua paciência - diz a madre Maria - «foi heróica».
De toda esta rede de ocupações ordinárias se servia para elevar o espírito para Deus.
Enfermidade e morte
Sor Custódia Maria gozou de boa saúde nos seus primeiros anos de vida religiosa. Ao fim de cinco anos de permanência no Mosteiro, apareceram sintomas de grave doença pulmonar: sobreveio-lhe uma forte hemorragia oral. Aplicaram-lhe o remédio da sangria e outros que aconselhava a medicina daquele tempo, a doença abrandou e Sor Custódia pôde retomar o ritmo normal da sua comunidade.
Em 12 de Abril de 1739 recebeu a notícia da morte de sua mãe Catarina de Couto, que junta à da morte do seu pai, ano e meio antes, foi mais um sofrimento que se somou à cruz da doença.
As forças corporais da serva de Deus foram-se debilitando e a febre desgastava-a. Apesar do seu débil estado de saúde, seguia o horário da comunidade e levantava-se à mesma hora que as restantes monjas, ia para o coro, assistia à Missa e comungava, contudo não lhe era permitido levantar-se à meia-noite para rezar a Hora de Matinas. A doença ia-se agravando e ela purificando-se cada vez mais na cruz dos seus sofrimentos físicos.
A doente tinha consciência da gravidade da sua doença. No dia 20 de Junho de 1739 foi à Missa e comungou como de costume. À tarde, foi à horta e atirou para o poço os instrumentos de penitência que tinha usado. Não quis deixar indício algum dos seus actos penitenciais.
Na mesma tarde, entrou sozinha no refeitório, e uma irmã teve a curiosidade de a observar por uma fisga da porta, e viu que estava de joelhos diante de um Crucifixo que ali existia e nesta posição permaneceu por um bom espaço de tempo em íntimos colóquios com o Redentor.
Nesta mesma tarde, era sábado, havia na Igreja monástica Exposição Solene do Santíssimo Sacramento. Como pode, foi para o coro e esteve num canto do mesmo, em adoração, cerca de três horas.
No dia seguinte, Domingo, fez esforço para assistir à Missa e comungar. Segunda-feira pretendeu fazer o mesmo, mas a abadessa não lho permitiu e levaram-lhe à cela a Sagrada Comunhão que lhe serviu de Viático. Ela mesma pediu que lhe administrassem a Unção dos Enfermos. Pediu que lhe dessem um crucifixo, «para se despedir do seu Senhor». E abraçando-o com amor, entregou a sua alma placidamente ao Senhor no dia 22 de Junho de 1739, às sete e meia da manhã, com 33 anos de idade e seis de vida religiosa.
O toque dos sinos do Mosteiro da Conceição de Braga anunciou à povoação que a alma de sor Custódia Maria tinha voado ao encontro do Pai.
A ela se pode aplicar a sentença bíblica que diz, consumada a sua vida em curto espaço de tempo, deu frutos como se tivesse vivido muitos anos.
Fama de santidade
A notícia da morte voou rapidamente por toda a cidade. Por ser no dia seguinte a festa de São João Baptista, o cadáver retirou-se do coro, onde estava exposto e levaram-no para o ante-coro.
As pessoas acorreram ao Mosteiro em tão grande número, pedindo alguma recordação da serva de Deus, que foi preciso colocar algumas monjas na grade do locutório e na portaria, que se encarregaram de repartir pelos devotos pedacinhos do hábito e véu e objectos piedosos, que tinha usado. E nem assim foi possível contentar a todos.
À vista de tal afluência de fiéis, mandou o senhor Provisor que fosse enterrada no dia 24. Por conselho dos médicos, do Padre Matias e dos confessores da comunidade foi o corpo colocado numa caixa e sepultado na sala capitular.
Dá testemunho dos factos o médico Dr. Manuel Campelo de Miranda, assim como o Dr. Pedro Bossion, francês, que viu o corpo antes de ser sepultado e confirma o que diz o Dr. Miranda.
A fama de santidade de sor Custódia Maria do Sacramento estendeu-se com rapidez por toda a região. Muitos devotos acudiam a rezar junto do sepulcro.
A devoção e fama de santidade ia crescendo entre os fiéis e falava-se muito de graças e favores alcançados por intercessão da serva de Deus. A madre Maria Benta recorda até ao ano de 1764 cinquenta casos prodigiosos, dos quais, diz, dezanove estão autenticados.
Em vista das proporções que ia tomado a fama de santidade de sor Custódia Maria do Sacramento e dos favores que se dizia conseguidos por sua intercessão as monjas da Conceição de Braga trataram de dar início ao Processo de Beatificação.
(Cf. ENRIQUE GUTIERREZ, ofm, “Brillaran como estrellas…”, Ediciones Aldecoa, S.A., Burgos, 1981, pgs. 125 a 133)

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